segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

E Londres, como vai?*




O mundo já teve muitos impérios. Tivemos os Assírios, os Medos e Persas, o império Macedônico-Grego comandado por Alexandre, Genghis Khan no oriente, Roma, e atualmente, digamos que o tripé Pequim-Londres-Washington. Mesmo Portugal e Espanha tendo terras com extração de matéria-prima e muito ouro, foi a Inglaterra a principal beneficiada com o desenvolvimento do comércio além-mar.

O Brasil, por exemplo, muito cedo foi entregue a terra da rainha. Durante as guerras napoleônicas, a França invadiu Portugal e com a ajuda da marinha inglesa, D. João VI e toda sua corte fugiram para o novo mundo. De colônia passamos a capital do império. Essa ajuda obviamente não saiu de graça. Nossos portos foram abertos às “nações amigas” e fomos inundados de produtos industrializados ingleses, tal qual hoje vemos com os produtos chineses.

Assim era o império britânico, onde o sol nunca se punha: Índia, Austrália, África do Sul, Canadá, Guiana Inglesa entre outros. De lá vieram a revolução industrial e o desenvolvimento das cidades, o primeiro metrô, Oscar Wilde (que, aliás, era Irlandês), uma das mais tradicionais e fortes monarquias, a colonização do que se tornaria depois a mais poderosa nação do planeta, etc.

Londres hoje é uma cidade com cerca de 10 milhões de habitantes, onde mais da metade de sua população constitui-se de imigrantes em busca de oportunidades. Maior que o Rio, menor que São Paulo, rivaliza com Nova York o título de cidade mais cosmopolita do mundo. Com a facilidade de se deslocar dentro da união européia, mais os imigrantes de fora da zona, o que menos se escuta pelas ruas da cidade é, por incrível que pareça, o inglês! Mas os tempos mudaram. A imigração, que tornou Londres a metrópole que é, hoje é combatida com ferocidade pelo governo conservador que está no poder. Linhas de metrô cortam toda a cidade garantindo uma mobilidade urbana que desconhecemos no Brasil (imaginem ir da Barra do Ceará na Unifor resolver um pepino e voltar em alguns minutos!); famosa pelos ônibus vermelho com andar superior, pelo tráfego na mão esquerda e pelos pubs, enxerga na bicicleta o futuro do transporte: carro precisa pagar pedágio para entrar na área central.

A monarquia anda muito bem, obrigado. Se os últimos anos não foram bons para a família real (separação dos príncipes Charles e Andrew e morte de Diana, princesa de Wales – foi decidido que o título não seria retirado), um sopro de vitalidade parece surgir no reino. A Inglaterra verá daqui a alguns meses seu futuro rei unir-se a uma plebéia de classe média, casamento este que deverá superar o de seus pais em glamour e importância. A cerimônia será numa sexta-feira decretada feriado nacional, e a segunda-feira seguinte será feriado bancário: quatro dias para o povo celebrar o matrimônio real no que deve ser o maior teste de popularidade da monarquia. Cogita-se inclusive que Charles, o próximo na sucessão, renuncie ao trono e passe diretamente a coroa ao filho William, em tese mais preparado para os desafios contemporâneos que a Inglaterra enfrenta.

Esse casamento não poderia vir em tempo mais apropriado, pois desde as duas grandes guerras o Reino Unido e toda a Europa não passam por situação tão complicada. França, Espanha e Inglaterra sofrem sob a pressão de protestos. Londres teve três greves no metrô contra a demissão de funcionários nos últimos cinco meses e os estudantes ameaçam destruir a cidade em protestos violentos contra a alta absurda nos preços das universidades. A inflação para esse ano esperada pelo banco da Inglaterra ultrapassa os 3%! Mesmo não amargando uma recessão econômica, a Inglaterra corre perigo por causa da situação de seus vizinhos apelidados de “PIGS” (porcos em inglês) pela mídia local: Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha (Spain).

Há poucos dias atendi um espanhol na loja. Ele está no Brasil há um ano, e a 7 meses em Camocim. Trabalha em um ótimo hotel de praia da cidade. Perguntei se adotara o Brasil como casa, ele respondeu o motivo: a Espanha não anda em uma situação muito boa para emprego. Os dados oficiais dão conta de 20% de espanhóis desempregados! Os PIGS – podemos ainda acrescentar a Itália - são os países europeus que sofrem o peso de um alto endividamento. Se não bastasse ainda amargam déficit na balança comercial (dá-lhe China!) e nas contas públicas (gastam mais do que ganham). Só para lembrar o Brasil desde os anos 90 registra superávit fiscal em suas contas. Agora o El Dourado está aqui, o mundo vê-se passa por mudanças profundas.

A tradição inglesa vive seu maior desafio. Cortes no orçamento, greves e protestos contrastam com toda a pompa aguardada para o casamento. Mas mesmo com problemas, Londres continua sendo um destino turístico dos mais procurados – e nunca vai deixar de ser a cidade dos prédios cinza e céu fechado que chove o dia inteiro. A olimpíada de 2012 vem ai!

*Publicada no jornal O Correio do Litoral de janeiro/2011.

Um comentário:

Medeiros disse...

Parabéns Emanuel, o texto ficou muito bom. Essa sua experiência de viver lá vai lhe seguir por toda a sua vida, afinal Londres é uma das cidades mais fascinantes do mundo. E ricas, pois apesar dessa sua observação da crise, eles ainda são super poderosos.

Ah, apesar de a Espanha ser maravilhosa, também preferiria morar em um sitiozinho ali nas emburanas!