quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Londres - Hyde Park




Estou em um dos lugares mais bonitos de Londres, o Hyde Park, uma área verde imensa no coração da cidade. Adoro observar a água (sou do mar e adoro perder-me em pensamentos observando o horizonte) e aqui tem um lago de nome “The Serpentine”. Ontem choveu, mas hoje o sol está de volta – tão bom sentí-lo em meu rosto!

Aqui existe pombo por toda parte. Além deles, vejo patos, cisnes, gaivotas... Como o parque é grande, o barulho da cidade permanece distante, e os quacks dos patos, o canto dos pássaros e o barulho do vento por entre as folhas das árvores completam o bucólico cenário.

Muitos passeiam com seus cachorros. Aqui eles correm soltos, felizes, livres de suas correntes e das paredes dos apartamentos. Engraçado, não correm atrás dos patos! De tão educados nem cumprimentam os demais visitantes do parque – que pena!

Muitos lixeiros, as cercas bem cuidadas. Foi aqui nesse parque que eu vi umas das imagens mais lindas da minha vida: está nas fontes italianas. Duas estátuas em postura de observação e contemplação; uma fonte ao meio, e o lago ao fundo. Árvores majestosas completam o visual nesse quadro vivo. Beleza assim só vi observando a duna da testa branca, que fica do outro lado do rio Coreaú o qual chamamos “Ilha do amor” lá no paraíso do Ceará... Lindos quadros vivos.

Você pode vir para o parque descendo na Marble Arch station, na Hyde Park Corner station (onde existe as roseiras... muito lindo), na Lancaster Gate Station (perto das fontes italianas) entre outras formas. Eu desci em Queensway station e vim andando até aqui. No meio do parque existe a The Serpentine Gallery que vale a pena conferir e perto dela, o memorial – fonte da Princesa Diana de Wales.

Lá no memorial da Princesa Diana sugiro parar um pouco e observar o barulho das águas correndo... Muito gostoso.

Estou escrevendo enquanto observo o lago e a ponte com seus arcos ao fundo.

Londres - dia de chuva, humor pra baixo




Um mês e pouco de Londres. Tão pouco tempo que parece ser tanto... Comeco a sentir as primeiras reações, acho. Não sei do que estou sentindo mais falta, se das pessoas ou do clima.

Sinto falta de dar risada, de rir de besteira. De acordar cedo e olhar para o sol. De andar de bicicleta, de dar e receber abraço gostoso. Ando tão estranho que, mesmo se tivesse alguém para abracar, talvez eu não sentisse vontade. Estou me sentindo estranho.

Alguns dias não tenho voltade de levantar e cruzar com essas pessoas. Não que elas sejam más, muito pelo contrário, a maioria está aqui para trabalhar e vencer na vida. Pessoas simples e humildes como nós brasileiros. Mas para quem veio do Ceará, o melhor lugar no melhor país do mundo, ninguém é interessante o suficiente. Quando se está com a energia plena você passa por cima de tudo isso. Rompe as barreiras que as pessoas se impõem. Atravessa o campo de força da frieza e do medo... O que não está sendo agora o meu caso.

Sou uma pessoa do dia vivendo em uma cidade onde só é noite. Tenho um coração maior que a razão vivendo em um lugar que ninguém tem tempo para notar isso.

Sempre fui de beber, não sou mais. Não gosto mais, não me deixa feliz como antes. E a praia de Londres é a balada. Sou do trabalho, da ação, preciso me sentir útil de alguma forma. Aqui não posso trabalhar. Gosto de saber que tenho dinheiro, aqui estou liso. Gosto de amar, e não vejo ninguém interessante para amar... Adoro conversar, mas como fazer se não domino o idioma?

Em resumo, sinto-me sozinho... Como vou viver cinco meses aqui? Já não sei se quero continuar em Londres. Voltar pro Brasil agora nem pensar, só em janeiro como planejado. Será que devo ir para a Alemanha ou para a Espanha?

Honestamente acredito que eu seja maior e mais forte do que tudo isso... O inverno está vindo. Está esfriando. Preciso agir.

Londres - o strike




Hoje a cidade amanheceu um caos. O metrô – pasmem – está de greve da tarde de ontem até o final do dia de hoje!

Eu não tenho experiência suficiente, mas as meninas que moram com a gente (A Marfê de São Paulo e a Livia de Vitória) disseram que realmente as coisas andaram subindo, por isso a reivindicação dos funcionários. Talvez reflexo da situação delicada pela qual passa a Europa.

Foi engraçado. Acordei cedo, feliz – está fazendo um sol maravilhoso! Exercitei-me, comi e saí feliz para mais uma aulinha. Justo nesse dia eu pensei: “Nossa, essa cidade é fantástica! Olha o silêncio... Você quase não ouve o tráfego. O ônibus anda. A cidade flui...”

Nessa época eu e o João morávamos em Islington, região norte de Londres. Eu pegava a linha 29 para ir para o centro, era no máximo 25 minutos. Não via engarrafamento, ônibus lotado – só as vezes ele vinha meio cheio, mas nada comparado a Fortaleza. E ficava imaginando como podia ser assim numa cidade com uns 7 milhões de habitantes.
Bom, ai lembrei do strike. A rua que eu pegava o 29 completamente engarrafada! 13 de maio 6 e meia da noite! Busão nem pensar, passou uns três que de tão lotados nem paravam... Grande circular perdia era feio! Fiquei chocado.

Londres é uma cidade super antiga, não tem estrutura viária principalmente pela região central. O tráfego aqui é bom por uma simples razão: ninguém usa seu carro próprio. É muito mais econômico, prático e barato ir de metrô, que cobre boa parte da cidade. Onde você vai tem uma estação perto. Ônibus e trens complementam o sistema de transporte público, e dificilmente estão lotados. O metrô funciona: existem linhas que passam de um em um minuto, dificilmente lota.

Por isso hoje a cidade está essa confusão. Imagino o centro como deve estar! Muito carro na rua a cidade pára. No Brasil estamos carecas de saber disso mas ninguém decide acabar com o problema. Será pela pressão do Lobby da indústria automobilística? Imagina...

Está aquela visão do fim-do-mundo: as paradas de ônibus lotadas e muita gente andando em direção a área central. Até pegar táxi está difícil, pois todos passam ocupados. No meio de todo esse caos um meio de transporte não sofre nenhum problema: as bicicletas. Quase zombam dos que estão presos dentro de seus carros passando em toda velocidade, com toda liberdade.

Aqui muitos usam bicicleta. Esses em nada tiveram a rotina alterada. Dá para passar entre os carros, no canto da calçada (não em cima!) e os carros vão ficando para trás. Hoje, boa parte da cidade está com inveja dos ciclistas – eu incluso! Talvez essa seja a imagem de como vai ser quando as cidades pararem de vez: quem estiver de bicicleta é que vai ser “o cara”...

Sai de casa oito e meia. São nove e meia e a situação continua a mesma. Andei um pouco acompanhando o fluxo, mas vi que não ia conseguir no curso. Parei em um parque para escrever.

Londres - Marble Arch




Estou escrevendo no Hyde park. Hoje faltei o curso pois não consegui acordar cedo depois de dias tao agitados.

Verão! Estou sob um sol maravilhoso sentado em um gramado verde e florido. É o Marble Arch, uma das entradas do parque. Algumas pessoas bebem cerveja, outras (especialmente crianças) brincam com os pombos, outros escrevem! Está muito gostoso aqui.

A Oxford Street (nome da rua onde eu estudava) está cheia! Não dá para andar tranquilamente com tanta gente subindo e descendo a rua. Falei a pouco com alguns amigos brasileiros. Estou adorando estar aqui, mas perdão, o Brasil é muito melhor! Sinto falta dos sorrisos, do sol quente e de minha lingua natal.

Mas sei que isso é besteira! Em alguns dias sei que estarei me sentindo londrino! E essa terra ficará em meu coração para sempre...

Londres - a chegada





A viagem foi ótima. Lanchinho gostoso, poltronas até confortáveis (melhor que as quais eu viajei no Brasil) e me divertindo ouvindo o sotaque dos portugueses! Não posso falar do sotaque de ninguém, afinal sou do Ceará, um dos sotaques mais peculiares do Brasil!

Em Lisboa tinha uma hora para desembarcar e pegar o outro avião. Quem disse que eu lembrava? rs. Estava extasiado com a viagem, com o visual de Lisboa (parece ser uma cidade linda), e estava lá tras no avião, não ia incomodar ninguém. Quando eu desci do avião a surpresa: um vento gelado! Muito frio. E pensei: nossa e é verão! Imagine descer desse avião no inverno. No caminho do saguão foi que lembrei que tinha que pegar o outro vôo! Chegando lá perguntei para um funcionário sobre o que deveria fazer, ele me informou: pegue a fila tal, que esqueci o nome mas quer dizer algo como “remarcação”. Uma fila gigante! Esperei um pouco mas vi que aquilo não estava certo... Vi umas funcionárias que não estavam atendendo e dei o velho “jeitinho brasileiro”: saí da fila e fui ao encontro delas. Não as interrompi mas elas faziam cara de que não estavam nem ai para mim. Até que uma se incomodou e disse:

- Senhor, você precisa pegar a fila para ser atendido.

- Eu sei, mas me informaram que eu precisava pegar essa fila, mas meu vôo para Londres está saindo agora e vou perdê-lo se não resolver logo! (Eu estava com o cartão de embarque na mão).

- Senhor, você já tem o cartão de embarque, pode ir direto para o portão tal e embarcar.

- Obrigado! – E corri. O funcionario tinha me dado a informacao errada.

Estava tão atordoado que nem lembro se falamos português ou inglês, sei que comecei a vida de Europa: corri até o tal do portão que não era perto! Passei no raio X, achei a área de embarque mas... Ninguém. Olhei o relógio: 9:25am. Meu vôo era 9:20am. Poxa, rs, por 5 minutos é foda...

Usei o telefone de informações que tinha do lado e a atendente da TAP disse que eu devia ir para a tal fila que não lembro o nome. Ai relaxei, fui no banheiro, lavei o rosto, usei o anti-séptico bucal e me preparei para enfrentar a fila de novo... Andei de volta tudo o que tinha corrido e lá vou eu enfrentar uma fila maior do que já estava naquela hora! E eu inocente achando que fila era privilégio do Brasil. Esperei um bom tempo. Fui muito bem atendido, e graças a DEUS não precisei pagar pela remarcação. Quando ela me disse o horário final de embarque do novo vôo, adivinhem: faltava uns 10 minutos! Nova correria. Pelo menos dessa vez já sabia onde era o portão!

Cheguei a tempo. Embarquei. Do meu lado um garoto cheirando a bebida... Não tem nada pior do que bafo de bebida! De qualquer forma bobagem, estava super feliz e ansioso pela chegada em Londres, principalmente por conta da imigração. Depois de um tempo observei o passaporte dele e vi que era australiano.

Antes do desembarque ouvi pelo sistema de som que tinha que preencher um papel quem não era cidadão europeu e que precisava estar com ele em mãos no desembarque junto com o passaporte. Na saída do avião uns policiais britânicos com cara de mau parando as pessoas que estavam com o cartão! Quem me parou foi uma mulher perguntando:

- Hi, what are you coming to do in England? – Nisso de um jeito super rápido de maneira que não dava tempo para você pensar, para saber mesmo se você não está querendo mentir. Ai meu Deus, era a hora!

Falei que estava vindo fazer um curso e tal. Ela pediu para ver a carta da escola, mostrei. Perguntou onde eu ia ficar, mostrei a carta do João (meu primo que estava me esperando no saguão) com o endereço. Ela me perguntou quanto eu tinha de dinheiro para ficar, eu falei. Nessa confusão toda de papel voou as libras que eu tinha comprado no Brasil! O dinheiro esparramou no chão e eu super nervoso dizendo:

- Ow forgive-me, forgive-me!! (perdao!)

Ela me surpreendeu nessa hora e fez uma brincadeira:

- Ah não senhor, desculpe mas não aceito propina! (Em inglês).

Ajudou-me a recolher os papéis, foi super atenciosa e educada. Na despedida desejei um ótimo dia para ela, ela desejou-me o mesmo. Os ingleses mostrando-se super educados.

- Acabou? Pensei. Era só isso? Já estava procurando ver se via o João quando deparei-me com a verdadeira fila da imigração: uma para cidadãos europeus, outra para não-cidadãos. Estava tranquilo. Sabia que não tinha o que temer, estava tudo certo, todo documentado. Não vim para imigrar até porque não quero! Preciso do sol para viver... Sou do Ceará, amo o sol, água de coco fresca e o calor das pessoas.

Meu inquisitor foi um senhor. Parecia ser o mais exigente de todos! Fez-me milhões de perguntas e eu, com meu inglês mais ou menos, ia respondendo. Perguntou quem estava me patrocinando, respondi meu pai. O que ele fazia no Brasil (a primeira moça já havia perguntado), o que eu fazia no Brasil (mostrei a carteirinha da faculdade junto com a declaração de matrícula), blá, blá, blá... Falei que ia ficar na casa de meu primo que é Espanhol. Ele perguntou se eu era brasileiro por completo, eu respondi que sim. E ele soltou a pergunta casca-de-banana:

- Se você é brasileiro, como pode ser seu primo Espanhol?

Eu fiquei meio boquiaberto com a pergunta, já estava quase fazendo amizade com ele. Respondi na maior naturalidade a verdade:

- O pai dele é Espanhol e casou com minha tia.

Depois disso tudo OK, carimbou meu passaporte e disse que eu podia ir. Como com a moça eu desejei um ótimo dia, ele desejou-me o mesmo. Pronto, estava na Inglaterra! Vitória!

O João coitado me esperava aflito no desembarque! Abraços, beijos, emoção. Pedi desculpas por não ter avisado que tinha perdido o vôo, mas não tinha tido tempo. Depois comprar o oyster, pegar o metrô e começar a vida em Londres. Cheguei com chuva, vento e frio. E eu esperando um bom dia de verão!

Ele morava em Islington, região norte de Londres. No mesmo dia fui no trabalho dele em Houborn e fiquei andando pela região. Adivinhem, nessa minha andança encontrei até a sede do meu curso! rs.

Esses primeiros dias o tempo estava muito ruim: vento, chuva, frio...

Londres - a partida




12 de agosto de 2010.
Estou na area de embarque internacional do aeroporto internacional de Fortaleza aviador Pinto Martins. Depois de uma fria – nem por isso desagradável – entrada, uma moça bonita recepciona-me com um sorriso de orelha a orelha e me entrega um panfleto do Duty free com ofertas tentadoras, em sua maioria bebidas e cigarros.

Área de embarque internacional, primeira vez. É como estar em lugar nenhum do mundo, onde a nacionalidade, a identidade chega a ser questão de sobrevivência. Sei que ainda estou em meu país, mas já me sinto meio sem chão... Ouço histórias de muito longe, de outras culturas, raças, cor, credos, ideologias.

Muitos estão a passeio. Afinal estamos em Fortaleza, capital do tão afamado Ceará, onde o sol brilha o ano inteiro e, dizem as más línguas, o pessoal fala cantando. Terra dos maiores humoristas do país, conhecida pela hospitalidade, pelas belas praias, pela lagosta e pela india Iracema.

Primeira fila de imigração da minha vida. Tensão. As pessoas – clientes e funcionários – sérias. Eu realmente não gosto desse clima. Chega minha vez. Uma agradável moça com cara de cearense seria minha inquisidora. Ao aproximar-me lanço todo meu charme:

- Boa noite.

- (ela não me responde)

Mesmo assim quase esboçou um sorriso, rs, consegui atingí-la com a melhor das armas: a educação. Entreguei passaporte e passagem. Ela devolve-me a passagem. Tensão. O que ela vai perguntar, pensei. Caralho, será que pus os documentos na mochila mesmo? Já passava toda a história na minha cabeça: estou indo para Londres fazer um curso de inglês, estou indo ficar na casa de meu primo, blá, blá, blá, então... Ela devolve-me o passaporte e diz:

- Boa viagem.

Ah certo, estou em meu país, não preciso justificar o que estou indo fazer la fora! rs.Que bom, menos bucocracia.

Escrevendo comeco a sentir que estou fora do Brasil. Já está registrado que não estou mais nele e, olhando essas pessoas, sinto não estar mais no meu amado e abençoado lugar. Daqui a pouco, Portugal.

- O senhor abençoou-me e o Miranda escolheu uma janela pra mim! – pensei. Será que vou realizar meu sonho de ver no avião o sol nascendo? Chegando em Brasília quase consegui ver mas, pasmem, errei o lado do avião, rs.

Estou sob custódia do meu país, mas obedecendo a leis que trancendem-no. Jajá adeus carnaval, adeus aquele acordar na casa de minha mãe ouvindo os pássaros enquanto observo as palhas de um coqueiro super verde balançando na famosa brisa Cearense... Aquele é o meu Camocim, o qual chamo Paraíso. Até sei lá quando!

Uma coisa é certa: muita família, pouco homem solteiro. O perfil do turista que vem ao Ceará deve estar melhorando mesmo – sem entrar obviamente no mérito se a prostituição em Fortaleza está diminuindo ou não.

Fui ao banheiro. Tudo é uma incitação ao consumo! Deparei-me com umas cervejinhas bem geladas e... Estou tomando uma bohemia geladinha agora! rs.

E nada de embarque! O que vai ser de mim, pergunto... Pra que saber! Respondo.
Deixa rolar!

O embarque começa... A aventura começa.