Departures (Okuribitu) é um
filme bastante interessante. Narra a história da transformação de um homem que,
saindo da cidade grande e abandonando um sonho de infância (tornar-se um músico
de violoncelo profissional), acaba voltando para sua cidade natal, iniciando uma vida completamente nova, diferente, trabalhando para uma empresa que preparara corpos
para o enterro.
Não se trata apenas de enterros, mas a despeito da difamação
da profissão que o personagem sofre, o decorrer do filme vai transformando nossa visão
daquele serviço, que não é somente a preparação de um corpo que vai para "debaixo do chão", mas trata-se de uma cerimônia, um rito de passagem belíssimo desta vida para a outra. Cada gesto praticado, a
beleza, a paciência, a leveza nos gestos permite àquela cerimônia do mundo real
um ato divino e belo, que nos faz transcender o próprio significado da morte.
Nessa relação, o filme é bem profundo em possibilidades de análise e boas
reflexões.
O filme narra também a relação conflituosa do
personagem principal com as memórias de seu pai, que o abandonou
quando criança. Este é um assunto muito delicado que o diretor consegue pesar bem no filme. Entretanto, diante da discussão suscitada pelo debate entre a vida e
a morte, esse conflito pai-filho acaba se tornando meio à margem
no filme.
(obviamente estamos tratando de criação artística, portanto depende
de cada um. Com certeza muitas outras pessoas devem achar o contrário, que o
emprego de Diageo na verdade - que no filme é insinuado como que tendo sido
recebido por uma razão divina - serviu exatamente para que o filho pudesse
enterrar o pai com honras, preenchendo todo o vazio da relação entre aqueles
dois.)
O diretor manda uns lances de câmara bem interessantes e
belos, como nos momentos finais quando enquadra o casal em um lance de profundo amor, ambientada por uma cortina em tom bege com muito branco... Nossa,
belo. Temos ainda cenas meio filosóficas (como aves voando) e alguns momentos de música clássica, o
que aproxima o filme de sua ligação com o espírito da audiência... Objetivo do
cinema? Talvez.
A forma cômica e séria com que o diretor leva o filme são dignos de reconhecimento. Adorei.
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