sábado, 18 de maio de 2013

Cinema: Departures (A PARTIDA) - japonês (OKURIBITU): O Valor da Morte

Em minhas análises sobre cinema tentarei focar nas relações e ideias poéticas e filosóficas que o filme traz, procurando não falar muito do enredo - assim você que não assistiu ao filme pode ficar tranquilo. Entretanto, aconselho assistir antes de ler esse post. Mas se seu objetivo é se ater à análise filosófica da obra, estamo aqui pra isso.

Departures (Okuribitu) é um filme bastante interessante. Narra a história da transformação de um homem que, saindo da cidade grande e abandonando um sonho de infância (tornar-se um músico de violoncelo profissional), acaba voltando para sua cidade natal, iniciando uma vida completamente nova, diferente, trabalhando para uma empresa que preparara corpos para o enterro.

Não se trata apenas de enterros, mas a despeito da difamação da profissão que o personagem sofre, o decorrer do filme vai transformando nossa visão daquele serviço, que não é somente a preparação de um corpo que vai para "debaixo  do chão", mas trata-se de uma cerimônia, um rito de passagem belíssimo desta vida para a outra. Cada gesto praticado, a beleza, a paciência, a leveza nos gestos permite àquela cerimônia do mundo real um ato divino e belo, que nos faz transcender o próprio significado da morte. Nessa relação, o filme é bem profundo em possibilidades de análise e boas reflexões.

O filme narra também a relação conflituosa do personagem principal com as memórias de seu pai, que o abandonou quando criança. Este é um assunto muito delicado que o diretor consegue pesar bem no filme. Entretanto, diante da discussão suscitada pelo debate entre a vida e a morte, esse conflito pai-filho acaba se tornando meio à margem no filme.

(obviamente estamos tratando de criação artística, portanto depende de cada um. Com certeza muitas outras pessoas devem achar o contrário, que o emprego de Diageo na verdade - que no filme é insinuado como que tendo sido recebido por uma razão divina - serviu exatamente para que o filho pudesse enterrar o pai com honras, preenchendo todo o vazio da relação entre aqueles dois.)

O diretor manda uns lances de câmara bem interessantes e belos, como nos momentos finais quando enquadra o casal em um lance de profundo amor, ambientada por uma cortina em tom bege com muito branco... Nossa, belo. Temos ainda cenas meio filosóficas (como aves voando) e alguns momentos de música clássica, o que aproxima o filme de sua ligação com o espírito da audiência... Objetivo do cinema? Talvez.

A forma cômica e séria com que o diretor leva o filme são dignos de reconhecimento. Adorei.

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