Camocim sempre foi um lugar pacato e tranqüilo, nada estranho para uma pequena cidade longe de grandes centros urbanos. Mas até aqui no paraíso chegou o tal do “desenvolvimento”: aumento do comércio e do fluxo de pessoas; terrenos são construídos e a cidade se expande; famílias chegam a cidade para residir; os jovens de outrora unem-se e geram seus filhos. Enfim, a cidade cresce e se “desenvolve”.
Escrevi a palavra desenvolvimento entre aspas porque muitos a ligam diretamente ao crescimento econômico da cidade, do qual discordo. Obviamente o aumento da quantidade – e da qualidade – dos empregos e serviços na cidade é benéfico a todos, mas não podemos esquecer que importante mesmo é mantermos nossa boa qualidade de vida. De que adianta uma cidade rica se não conseguirmos nos locomover tranquilamente?
O que vemos hoje em Camocim, Sobral e outras cidades é a reprodução de um problema já observado há algum tempo em grandes cidades: o excesso de carros. As vendas de automóveis batem recordes atrás de recordes e o governo não prepara as cidades para tanto carro. Solução definitiva ninguém apresenta, mas basta um aceno das montadoras e o governo entra com isenção de impostos ou outros benefícios. Outro agravante desse modelo é a facilidade de obter crédito - nada barato por sinal. Investimento em vias é caro, demorado e difícil de ser executado. Mais prático seria investir na melhoria do transporte público, mas o que vemos é a continuidade das idéias do individualismo, do “cada um em seu carro”, do “ônibus é coisa de pobre” vendidas direta ou indiretamente pela publicidade.
Voltando ao nosso Camocim, falemos noutro grande problema: não tem quem agüente mais tanto carro de som fazendo propaganda! São anúncios de festas, óticas, compras premiadas... O problema é que todos escutam, quem quer e quem não quer. A prefeitura é a responsável legal pela organização do espaço público, ai incluída a publicidade. Não podemos instalar um outdoor ou abrirmos uma rádio sem autorização do governo, do mesmo modo não podemos pôr um carro na rua a qualquer volume, em qualquer horário, sem qualquer controle! A polícia militar de Camocim conseguiu coibir os excessos de som na beira mar e bares, por que a cidade não decide acabar também com esse dano público?
Outro problema é nossa cultura: não estamos acostumados a obedecer as leis de trânsito. Outro dia uma moto sem placa estava parada na rua Independência, quase esquina com 24 de maio (um dos maiores fluxos da cidade), embaixo da placa de proibido estacionar! A guarda chegou e, apesar de muita argumentação do condutor, agiu profissionalmente e levou a moto. Sobre esse “causo” comentários que ouvi: “- Esses guardas ‘só querem ser’”. Outro: “- Os guardas levaram mesmo a moto do rapaz, como é que pode!” Mas ninguém se dá conta que eles estão fazendo o trabalho deles, são pagos para aquilo! Será que aquele rapaz da próxima vez não irá pensar duas vezes antes de atrapalhar um cruzamento tão importante?
Isso tudo sem falar nas carroças, caminhões (especialmente na Independência entre José Maria Veras e 24 de Maio), bicicletas e motocicletas trafegando por ai. Camocim está crescendo, e é evidente que precisamos parar para planejar nosso crescimento urbano. Como anda nosso plano diretor, será que anda sendo cumprido? E nossa guarda, está bem treinada e equipada? Para o turista temos praias paradisíacas, história e arquitetura, por que não também nos diferenciarmos como uma cidade organizada? Calçadas largas e padronizadas, semáforo, asfalto sinalizado e de qualidade, ciclovias... Tudo isso tem que deixar de ser sonho e se tornar realidade.
Mas não caiamos no erro de cruzar os braços e botar a culpa no governo, façamos desde já a nossa parte! Não tem vaga? Nada de arrumar um “jeitinho”, pare um pouco mais a frente e volte andando. Alguém está atrapalhando? Nada de buzinar, aguarde mais um pouco. A educação hoje é a maneira mais prática, barata e eficiente de melhorarmos o trânsito no nosso paraíso.
* publicada no jornal "O Correio do Litoral" de Camocim.
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